domingo, 27 de março de 2011

O Eixo

Hoje. Só consegui escrever hoje sobre tudo o que aconteceu, e que AINDA está acontecendo no Japão, ou melhor, no planeta.
O problema também é nosso, não e só deles. A solução e as respostas (porque elas existem)pertencem a toda HUMANIDADE.
Conheço bem aquele país e a sua gente. Tive a oportunidade maravilhosa de conviver com eles e sentir tudo o que um ser humano pode sentir: admiração, carinho, respeito, impaciência, intolerância, compaixão, amizade e até raiva. Assim, desse jeito, foi minha relação com o Japão, que depois de um tempo foi se tornando mais leve e mais imperfeita. Como deve ser. Imperfeita...Com amores e raivas.

Quando vi as imagens estava longe da minha família e me deu um aperto no coração por estar longe, por não poder comentar, falar sobre o assunto e dizer o quanto eu sentia. Estamos vivendo um aprendizado incrível com aquele povo. Aliás, mais um dos muitos que os japoneses nos jogam, nos tentam passar. Eles esperam pra fazer certo e nós fazemos para ver pronto. Eles pensam e nós falamos. Eles sentem e nós vivemos tudo intensamente. Uma aula de ambos os lados. Os lados que se completam e que por muitas vezes não se aceitam.

Hoje o Japão vive o tempo do planejamento que não deu certo. O tempo do tudo que virou lixo e do lixo que vai virar tudo. A capacidade de construção e reconstrução daquele povo é notória e admirável. Eles aprenderam com a cultura do arroz a terem paciência e insistência. Além disso, aprenderam a se curvar, pois o arroz se planta e se colhe com a cabeça baixa. E eles se curvaram diante da natureza, que num momento de rompante único, manda para aquele povo o que aquele povo SABE receber. E eles se curvaram, sem a revolta dos que não entendem, mas com a sabedoria dos que sabem que tudo é possível.
E agora irão reconstruir mais uma vez o seu país, as suas coisas, as suas dores e os seus sentimentos. Irão se perguntar como podem se prevenir mais ou melhor ainda, irão no silêncio de seus templos não encontrar as respostas e mesmo assim, saber respeitar a ignorância, o não saber e as perdas, os términos. E como nós ocidentais reagiríamos a tudo isso ou ao nada que é isso ? Nós que somos oriundos da cultura do milho, que dá até em beira de estrada e que é colhido com a espalda ereta e a cabeça bemmmm erguida.

Sim, temos que aprender muito com eles. Sim, eles têm que aprender muito conosco. E a natureza com sua maestria e exuberância (para o bem e para o mal), nos faz olhar para o lado de cima, nos faz pensar "e se fosse conosco?", nos faz ter a possibilidade de entender coisas e mais do que nunca, de cosiderarmos que nós somos NADA ou podemos ser TUDO diante dela.
Esse povo do sol nascente entende de viradas, sabe o que é esperar e fazer na hora certa. Mas, diante do seu lado "sombra" de planejar sempre tudo e de querer de forma visceral a perfeição, encontram talvez agora uma das maiores oportunidades de virarem um pouco o eixo de sua alma e de seu coração. O eixo da terra não se movimentou por acaso. Temos nós é que mover o nosso eixo. Mover para a LUZ que cada um de nós tem dentro de si e que pode - definitivamente - ser o grande processador de novas escolhas, novos hábitos, novos olhares, novos aprendizados, nova VIDA. Renovar é preciso, assim como reviver é preciso. A natureza faz isso. Se recria, se re-inventa, se renova. Mas nós, diante do nosso EGO e da nossa necessidade de CONTROLAR tudo, não podemos nos permitir a rotação do eixo, o tsunami interno, a transição da vida.
E nós diante da nossa arrogância dizemos que estamos mal porque estamos "fora do nosso eixo". Isso pode ser muito bom. Ficar fora do eixo. Experimentar o desconforto é melhor do que o desconforto nos experimentar... Entender que estar fora do eixo é diferente de ficar fora do eixo. Ser e Estar. Experimentar ou Permanecer. Mais uma escolha. Porque tem gente que FICA e permanece fora do eixo e realmente não consegue aprender. Mas tem gente que ESTÁ fora do eixo e sabe que essa é uma bela oportunidade de se revisitar, de experimentar e se recriar. Assim como a natureza, se recriando a cada momento.

A mudança ocorreu. E agora ? Todos podemos e devemos olhar pra isso como fonte da nossa transição interna. Já dizia William Bridges: Nós não resistimos à mudança. Nós resistimos à transição. Pois então parais de blasfemar contra a escolha que não é TUA. Parais de olhar para as mudanças de FORA, como se aquilo não tivesse a menor interferência no que pode transicionar por dentro. Hoje o povo japonês está vivendo na pele uma das maiores catástrofes da sua história. Uma mudança DE FORA que deixa lastros infinitos e eternos, mas que dá a chance de uma transição vitoriosa diante da vida.
Podemos crescer na dor ou no amor. Eu sempre prefiro o amor, pois é mais gostoso e confortável. Mas, assim como muitas coisas na vida, nós também não controlamos isso. E a dor nos faz sim crescer. O desconforto e as perdas nos faz sim mudar. O fracasso nos faz sim aprender e devolver pra vida o que ela nos dá. A vida com toda sua capacidade de errar, com toda a capacidade de não saber prever e nem planejar. Assim como a natureza, que diante da sua impotência de fazer previsões, reage e grita por mudança, Sofre, corre e vibra com seus mares e terras por pessoas mais capazes de entender que até ela (a natureza) pode sim mudar o seu eixo.

Pois então, que possamos dar a chance a nós mesmos de entendermos tudo isso e sermos capazes - porque somos - de também poder mudar o nosso eixo.
Sempre é tempo. Sempre há o que ajustar.