segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Unchickening" by Pira da Youdb.

Estive com o Pira e o Leo da Youdb, empresa de soluções que vão além do database, para falarmos sobre gestão de gente, de desenvolvimento de empresas e do Nissan 350Z. Sim, o Pira é pirado no 350Z, carro ou máquina ou mito, que eu e o time da Nissan troxemos para o Brasil em 2005. Tirando a máquina e tudo que a envolve, falamos de gente e de como podemos fazer o nosso melhor para que elas sejam o seu melhor. Foi ai que o Pira veio com o termo "unchickening", que nada mais é do que "desfranguenizar" o ser humano. Isso mesmo. Estamos nos referindo ao ser humano que vira "frango" para o abate. Isso tem a ver com a falta de coragem de ir em frente, de assumir responsabilidades e de ser íntegro. Para o SIM e para o NÃO, os homens e mulheres ficam melhores (em todos os sentidos) quando verdadeiramente assumem a sua responsabilidade ou sua habilidade em serem responsáveis, diante da vida, do trabalho, dos objetivos, dos desafios e da empresa.
Infelizmente - e eu expliquei isso ao Pira e ao Leo - as pessoas estão ficando mais "frangos" ou "frangas" porque o MEDO as invadiu e o Estado não ajuda em nada. Bolsa família, bolsa escola, bolsa comida, bolsa sei lá mais o que. Tirando qualquer posição ou tendência política, o fato é que não aprendemos muito a lutar e a encarar o abatedouro. Frango tá lá tomando hormônio para ser abatido. Lamentável fim. Galo não é abatido. Ou alguém já viu um "frango de briga" ? Mais ainda...alguém já viu uma "frangueda" assim como uma tourada. Touro pelo menos luta. Frango sai correndo. Infelizmente os frangos estão mais disseminados por aqui mesmo, entre nós "burgueses". Lá no nordeste ou na África, na seca, na fome, na miséria; não tem espaço pra frango, até porque se não ele vai pra panela. Lá sobrevivem os fortes que lutam até o fim pelo ideal de comer, de trabalhar, de viver e de SER.
E quem é o culpado disso tudo ? Nós. Sim, nós mesmos, pais e mães que criamos nossos filhos como frangos.
Hoje, assisti a uma palestra da Roberta Rivelino, que disse que essa geração que está ai, se acostumou a poder tudo. E quando não pode ? O que acontece ? Tem grandes chances de virar frango. De não enfrentar e pular de galinheiro.
A hombria e a integridade é para poucos hoje em dia. Que pena (essa não é a do frango).
Mas será que tem jeito ? O Pira perguntou. Olha, ter somente corajosos é uma utopia. Não podemos nos enganar. Mas devemos encorajar esses caras para serem eles mesmos e enfrentarem os desafios sem desanimar no primeiro obstáculo ou sem assumir que é o responsável por isso ou por aquilo. O mais comum é perguntar: quem errou. O mais raro é ouvir: fui EU.
Pois bem, esse texto é uma homenagem ao Pira e seus frangos que podem virar galos. Ou que podem continuar frangos, sabendo que para essa nova era, vamos precisar de mais galos do que frangos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

De Zumbi a King e Obama


Resolvi mudar um pouco o título da exposição que está no Museu Afro Brasil, por se tratar de uma licença poética em homenagem também a Zumbi dos Palmares.
Fui lá no museu afro no dia 20 de novembro, dia da abertura da exposição, a convite da querida amiga Ligia Ferreira. Mulher forte, culta, doce e linda, que tem o privilégio de descender desse povo maravilhoso que só insiste em ensinar ao mundo a ser melhor. Pude ver e sentir algo como há muito tempo não via ou sentia. Uma mostra "quente". Isso mesmo, senti o calor da Africa em todas as peças, todas as fotos, todas as pessoas e coisas. Muitas coisas. Tudo começa com os vudus africanos, passando pela "entrada" (entre aspas mesmo, porque essa entrada tem vários significados) dos negros ao Brasil, chegando ao casco de um navio negreiro trazido da Bahia, visitando os Orixás, os mitos, os deuses, a arte, passando por Martin Lutter King, Obama, mulheres, homens, velhos, crianças e finalmente sem fim. Sim, a exposição tem gosto de "quero mais" e você sai de lá com muito orgulho de descender, de alguma forma, desse povo lindo e guerreiro.
No dia da abertura, ouvi discursos de pessoas incríveis. Pessoas com muita expressão de verdade (coisa rara hoje em dia...), africanas, americanas, brasileiras. Pessoas da resistência, da arte e da origem. Uma origem que não se cala, que não se acomoda, que não tem medo de dizer que existe. Vi isso lá. Senti isso nos olhos da Ligia e seus amigos do Museu e de todas as instituições que ajudaram na realização da obra.
Numa parte em especial, tem uma homenagem a Olga de Alakêto, Yalorixá bahiana descendente de nação africana e que não teve medo de mostrar ao mundo (sim porque ela correu o mundo) sua raça, seu credo, sua fé e suas roupas e arquétipos maravilhososos. Seu olhar - exposto em fotos - revela a segurança de quem luta e vence, revela a força de quem tem poder e do orgulho de pertencer e falar.
Ter estado lá no Museu Afro foi uma horna. Um dever para nós brasileiros de honrar quem nos honrou e honra com tudo o que significa o verbo honrar. Com tudo o que significa a condição humana de resistir a tudo, inclusive a fome e às diferenças inexplicáveis, de existir de forma digna, real e soberana. Uma maravilha de exposição que contempla além da arte e da força, a suavidade de um povo. A leveza de um Obama e sua família de mulheres "subindo" à Casa Branca. Fotos inesquecíveis, que marcam além dos grilhões e chibatadas, que marcam com justiça e valor a cara de um povo que somos nós. Todos nós humanos, descendentes da "Mãe Africa", com todos os seus sons, cores, formas, deuses e muita luz. AXÉ !!!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Menino e a Universidade

Ontem foi mais uma maratona do menino Matheus (meu filho) e muitos outros meninos, de igual idade, partirem para a corrida universitária. Ontem, agora no sentido figurado, eles eram meninos mesmo e na verdade, continuam sendo. E de repente, são "ogrigados" a decidirem seu futuro, sua profissão, sua vida. Certo ou errado, fica sem julgamento, mas apenas uma constatação de que é no mínimo prematuro dizer para esses meninos e meninas que AGORA eles têm que decidir. Senti ontem ao deixar meu filho no local da prova, uma tensão no ar...um silêncio desconhecido, estranho. Eram muitos jovens, muitos mesmo. Não havia a alegria ou a excitação de um show, de uma balada, de uma festa. Havia pois, um grande MEDO no ar. Uma "energia" da insegurança, do temor, da dúvida, da cobrança. E o que fazer como pais nesse momento ? O risco é passar para eles a nossa insegurança, as nossas frustrações ou projeções de um futuro brilhante, de sucesso, de SER o melhor, de provar que pode, enfim...de tudo aquilo que não devemos fazer. Minha escolha ? Ficar calado e apoiar. Dar amor e dizer que estamos juntos. De agradecer a minha companheira e esposa, que nem é mãe dele, todo apoio, amor e dedicação. É incrível como nesses momentos vemos a verdadeira solidariedade, o amor latente querendo ajudar, querendo estar junto. E aí os meninos podem ficar mais fortes. Com amor e apoio, com solidariedade e paixão. Nesse momento da tal escolha prematura, devemos sim torcer muito, porque faz parte do momento deles, faz parte do conjunto da raça que vai em bando a procura de algo para ser feliz, de mostrar que pode, que conseguiu. É difícil não perguntar como foi, quantas questões ele acha que acertou, se deu tempo, se havia amigos, se estava nervoso. É um exercício de paciência e amizade. De amor e compreensão.
Mas, de que serviria o amor se não pudesse compreender ? Se não pudesse colocar-se no lugar do outro ? E assim, sentir o que ele sente ?
Pois é, ontem senti medo e coragem. Uma mistura mágica que faz meninos virarem homens e que faz homens virarem meninos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Brasil que é "FERA"


Nesse fim de semana fui assistir a Bela e a Fera. Espetáculo da Broadway encenado no Brasil. Já tinha assitido lá em NYC e agora aqui no nosso país. Essa é a segunda montagem. Surpresa. Essa é a palavra. Surpresa pela qualidade, pela beleza, pelo talento. E então me perguntei o porquê dessa surpresa. Por que nós brasileiros AINDA nos surpreendemos com a nossa capacidade de fazer bem feito, de realizar de forma impecável algo como a arte ? Vi nesse domingo um verdadeiro espetáculo. Orquestra sincronizada, ensaiada, com música pura, acordes perfeitos, com elegantes cordas e sopros retumbantes. Atores-cantores-bailarinos dando o melhor de si, numa dedicação humana e artística maravilhosa. Um teatro limpo, confortável e belo. A Bela e a Fera BRASILEIRA. Eles estão no final da temporada e pude ver a força da arte e da música a serviço do público. Para divertir, alegrar, emocionar, enebriar. Esse é o propósito da arte, além da cultura, da informação e do conhecimento. Senti a vibração do público e a emoção das crianças e num dado momento de emoção e expectativa total, a tal Fera interpretada pelo magistral e talentoso Saulo Vasconcelos, devia dizer um "por favor", se curvando à educação e aos modos de um cavalheiro. Um esforço dito em palavras partidas, em sílabas soltas. "p-o-r-r-r-f-f-f..." dito várias vezes numa tentativa heróica para uma "fera", quando de repente da primeira ou segunda fila surge um POR FAVOR !!! Retumbante, alto, carinhoso, num rompante de ajuda àquela fera tentando ser amável. Um por favor LINDO e emocionado de uma menina querendo ajudar e mais do que isso, ACREDITANDO em tudo. E a "Fera", "disfarçada" em Saulo Vasconcelos, numa atitude impecável e com um improviso que serve somante para os que sabem e sentem, faz um gesto para a menina com as mãos e olhando diretamente nos olhos dela, querendo dizer: "espere, obrigado, eu vou conseguir", finalmente solta um "por favor" vindo da alma e do coração. E esse por favor em especial, naquela noite, foi para a menina que acreditou. Lindo, emocionante e pacificador. Foi assim que me senti. Realmente em paz e com uma sensação real e renovada de que somos "fera" e de que podemos sim fazer e realizar com competência, criatividade e alegria o sonho, a música e a arte. Ahhhhh, na minha humilde opinião, a nossa Bela e a nossa Fera dão de 1000 na Bela e na Fera "deles".